223. as amigas.
amizade feminina, concertos para ver no youtube, um candidato a favorito do ano.
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há
— Com um Brilhozinho nos Olhos, Sérgio Godinho1
Nunca fui de muitos amigos. Na verdade ainda não sou. Em certas alturas sei que devo ter enganado bem, mas o dizer popular de mais vale poucos e bons sempre me perseguiu, decidido a ser o meu lema na amizade. Talvez seja o melhor para mim, uma vez que nem sempre senti que era boa a manter amizades (e ainda estou a aprender a fazê-lo).
Apesar de tudo, dou muita importância à amizade e é um tema que cada vez me tem interessado mais. Por vezes, dou por mim a pensar nas amizades que tive ao longo dos anos e em como foram ficando para trás, por minha culpa, por culpa da outra pessoa ou simplesmente pelas circunstâncias da vida. Ter amigos dá trabalho, ser amigo de alguém dá trabalho. Não o digo de forma negativa, mas acredito realmente que é algo que exige uma disposição muito específica, um esforço conjunto por estar presente.
Recentemente, ao ler Amigos, da Marisa G. Franco, pensei um pouco sobre amizades, mas, acima de tudo, sobre amizades femininas. Em Amigos, a autora apresenta uma espécie de plano para nos conectarmos mais facilmente com os outros, para lá das distrações das redes sociais, num mundo pautado por burnouts e sobrevalorização do amor romântico. Consciente de que ter amigos é fundamental em qualquer fase da vida, este livro vai-nos apresentando várias questões que surgem em pesquisas científicas que mostram como melhorar as nossas relações com os outros.
No geral de ter amigos, ter amigas foi algo de que senti falta em certa altura. Por muito que tenhamos bons amigos, há coisas que parece que só as nossas amigas vão perceber. Há temas que nos dizem mais por sermos mulheres, porque ainda nos prejudicamos assim em sociedade — envelhecer, ser ou não mãe, casar ou não, as lutas profissionais que ainda temos, as mulheres que gostam de prejudicar outras mulheres —, e há tantas outras conversas que parecem fluir melhor quando estamos com as nossas amigas.
As mulheres viram-se muitas vezes contra outras mulheres — ainda há poucos meses escrevi aqui sobre isso —, mas também acho que é precisamente por causa disso que é preciso rodearmo-nos de mulheres que estão aqui para nos iluminar e não para nos tentar queimar, mulheres que realmente nos fazem ter esperança no futuro das mulheres.
Quando penso nas minhas amigas gosto de saber que elas vão compreender os meus problemas laborais a um nível mais profundo, que vão saber que quando digo que ainda não sei se quero ser mãe que estou a optar por escolher algo e não estou a fugir a uma obrigação, que vão compreender a minha dor quando falo sobre questões de aparência, de padrões de beleza, da necessidade de ser uma jovem promissora em alguma coisa. Mas que também me vão recomendar os livros que nos fazem mais sentido, os filmes que nos vão tocar de uma maneira diferente, os produtos de beleza que nos fazem sentir mais bonitas só por nos permitirem cuidar de nós. Ter amigas é ter um porto seguro diferente. É saber que coisa mais preciosa no mundo não há.
Esta semana no daylight
A semana começou a review de O Filho de Mil Homens, livro de Valter Hugo Mãe que foi leitura conjunta do Clube do Livra-te em fevereiro;
Escrevi sobre a experiência de ver os Amália Hoje ao vivo no Coliseu do Porto;
E, por fim, publiquei a review de Limpa, de Alia Trabucco Zerán, a escolha da Rita no Clube do Livra-te de fevereiro.
A viver nas páginas de…
Boys Don’t Cry, de Fiona Scarlett
Depois de ouvir (e ler) a Rita falar tão bem da Fiona Scarlett, aproveitei uma promoção da Amazon e comprei Boys Don’t Cry para ler no kindle. Como não existe traduzido e as sinopses que encontro do livro são muito pouco explicativas, é mesmo da review da Rita que trago a sinopse deste livro:
Conta a história de dois irmãos: Joe, de 17 anos, e Finn, de 12, que cresceram com o peso de terem um pai constantemente envolvido em gangs e esquemas obscuros. Numa tentativa de mostrar um mundo diferente daquele que têm em casa, Joe acompanha o irmão mais novo em passeios pela praia ou em sessões de desenho, para que ele perceba que há beleza no mundo. Joe sabe que não quer ser igual ao pai, mas quando Finn é diagnosticado com uma doença terminal e o pai é preso, rapidamente percebe que nem sempre podemos manter-nos fiéis às nossas convicções.
Recomendação aleatória da semana
Slow J | Afro Fado (Live in Lisboa, 2024)
Vou recomendar este concerto sem ainda ter visto a versão oficial porque o vi, no ano passado, numa versão completa num outro perfil e, por isso, sei que posso recomendar sem medos… bem, sendo sincera, é um concerto do Slow J, posso recomendar sem medos de qualquer forma.
Coisas que iluminaram a semana
Os Esquecidos de Domingo, da Valérie Perrin
Falei sobre ele na edição da semana passada sem imaginar que seria uma leitura tão bonita e da qual iria gostar tanto. Arrebatou-me por completo e ganhou um lugar especial nos meus livros, sendo um sério candidato a favorito do ano.
Plutonio ao vivo no MEO Arena (no Youtube, pronto)
O Plutonio atuou no MEO Arena, em Lisboa, nos dias 28 de fevereiro e 3 de março e, nesta última data, o concerto foi transmitido em direto no Youtube. O Plutonio é um rapper que tenho acompanhado mais e, por isso, aproveitei para ver o concerto e ter alguma ideia de como será ao vivo. Já que, no Porto, ele só irá atuar na Queima, fica a ideia. Talvez numa próxima.
Fim-de-semana com as minhas meninas
Vim passar o fim-de-semana com a minha mãe e com a Lady e, embora tenha apanhado péssimo tempo na viagem, é sempre bom poder estar aqui com elas, mesmo que nem sempre dê para repor energias.
Até para a semana,
P.S.: O Sérgio Godinho é o autor homenageado da Feira do Livro do Porto em 2025!
Ando a escrever um texto sobre a minha amiga mais antiga e achei muita graça a esta tua reflexão sobre amizades femininas