Ver o Porto encher-se de turistas provoca um certo egoísmo. Vai além da sensação de cidade cheia, de casas de valores inflacionados, de restaurantes feitos para estrangeiros. É aquela vontade de não partilhar com os outros as coisas mais bonitas que temos na vida.
Admito que, numa tarde de sábado de ainda inverno me chocou ver a Ponte Luís I tão cheia de pessoas. Foi por isso que virei à direita e segui para a Sé. Mesmo movimentada, não seria tão difícil encontrar um lugar onde parar e apreciar a vista. Ainda me fascina a luz desta cidade, emociona-me ver as magnólias e as camélias florir, sinto o mesmo entusiasmo ao chegar que sentia na primeira vez.
Escolhi bem a mudança de percurso. Não ia ter espaço do lado de lá do rio e ali pude ficar no lugar que queria. Muitos sentem-se em casa desde sempre, outros percorrem quilómetros à procura dessa sensação. Mas seja inato ou adquirido a sensação deve ser a mesma.
E enquanto o Porto se veste de primavera, vive-se a cidade de forma diferente dependendo da companhia. Amamo-la sozinhos, amamo-la acompanhados. Aqui, nunca senti a solidão de outras paragens, só o aconchego de estar em casa.
Na lista portuense para este ano
Pronto, eles mudam-nos as cidades, mas há uma coisa que os turistas fazem que podia perfeitamente ser motivadora para os locais: não perdem a oportunidade de ir a todo o lado. Todos aqueles sítios que nós vamos deixando de lado para um dia. Para mim há dois lugares que são assim e um que simplesmente adiei sem saber porquê. Quero visitá-los este ano.
Centro Português de Fotografia / Antiga Cadeia da Relação do Porto
Palácio da Bolsa
Casa Andresen no Jardim Botânico do Porto
No caso dos dois primeiros, acredito que o facto de serem em lugares onde, inevitavelmente, já passei muitas vezes acabou por motivar a que fossem ficando para trás. Os um dia tenho de vir cá multiplicaram-se e ainda não se concretizaram.
No caso do último acho que o deixei de lado para haver sempre algo novo para ver no Jardim Botânico. Conheci-o no verão, visitei-o no outono, mas quero sempre voltar e por isso deixei a Casa Andresen ficar para trás.
Mas não digam aos turistas. Deixem que haja segredos que são só nossos.
Esta semana no daylight
A semana começou com uma opinião perdida nos rascunhos, a de As Primas, da Aurora Venturini;
Escrevi sobre I Know Why The Caged Bird Sings, o primeiro volume da autobiografia da Maya Angelou;
E o fim de fevereiro trouxe as já habituais coisas que iluminaram o mês.
A viver nas páginas de…
Os Esquecidos de Domingo, de Valérie Perrin
No nosso desafio de autores para 2025, uma das escolhas foi a francesa Valérie Perrin e é ela a escolha de março, neste caso com Os Esquecidos de Domingo, o primeiro livro da autora.
Gostei muito de Breve Vida das Flores e, por isso, tinha curiosidade em regressar à autora, embora ainda tenha Três em atraso. Os Esquecidos de Domingo era, por acaso, o livro dela que planeava ler primeiro, dos três que me faltam, por isso até acaba por haver uma bela energia de compatibilidade por aqui.
Eis a sinopse do livro:
Aos 22 anos, Justine vive com os avós e o primo, Jules, desde que os pais de ambos morreram num acidente. Os dias de Justine parecem suceder-se sem que nada se altere: trabalha nas Hortênsias, um lar de idosos na pequena aldeia onde habita, e adora conversar com os residentes. Entre eles, está Hélène, uma centenária cujo sonho sempre foi aprender a ler.
Justine e Hélène criam um profundo laço de amizade, alimentado pelas horas que passam a escutar-se e a partilhar memórias e sentimentos. E eis que, enquanto as conversas se multiplicam, três coisas acontecem: Justine começa a interrogar-se sobre a morte dos pais, compra um caderno no qual começa a escrever regularmente, e, no lar, surgem estranhos telefonemas que vão provocar uma pequena revolução nas Hortênsias… De que forma se entrelaçam as histórias? Como podem as antigas e novas memórias fazer Justine mudar o rumo da sua vida?
Como já nos habituou, Valérie Perrin deslumbra-nos com a sua enorme sensibilidade ao tratar os temas mais delicados das nossas vidas num romance em que a melancolia e a graça andam de mãos dadas e nada é deixado ao acaso do destino.
Coisas que iluminaram a semana
Regueifa de pequeno-almoço.
O tom foi de brincadeira, mas a verdade é que quando o assunto é regueifa nunca se fala totalmente a brincar. Esta semana um colega trouxe regueifa para o pequeno-almoço e juro que foi o ponto alto da semana de trabalho.
Amália Hoje no Coliseu do Porto.
O Diogo perguntou-me se queria ir minutos depois de o concerto ser anunciado e eu acedi. Não sei bem porquê, mas Amália lembra-me a minha bisavó e sempre gostei deste projeto, embora não estivesse no meu bingo card alguma vez os ver ao vivo. Acabou por ser um bom espetáculo, muito bonito e emotivo, mas também cheio de alegria e energia.
Até para a semana,