235. não escrevi sobre isto em maio.
resumo de um mês corrido, reflexões sem tempo, Taylor Swift e uma campanha digital aprovada.
Estava a tentar escrever sobre maio e aquilo que me ocorreu de imediato foi que não sei por onde começar. Tenho sentido isso até quando penso nas coisas que têm acontecido e sobre as quais gostava de refletir em palavras — é tanta coisa que não sei como parar e refletir sobre cada uma delas, quando o fazer, por onde começar. Maio foi um daqueles meses em que os dias eram tão cheios de acontecimentos — pessoais ou não — que era só chegar à cama e adormecer, exausta de tudo.
Talvez por isso não escrevi sobre as férias, sobre passar quase duas semanas com a minha família, sobre como, na última noite, a Lady foi dormir comigo — ela que dorme sempre com a minha mãe —, como se soubesse que eu ia embora no dia seguinte. Não escrevi sobre os passeios que demos pelo Porto, não escrevi sobre a clareza que caiu sobre mim em relação à forma como estava a levar o meu trabalho nos últimos meses, não parei para escrever sobre o cruzamento de universos que acontece sempre que a minha família vem ao Porto e sobre como isso me faz pensar em realidades alternativas.
Não escrevi sobre o regresso ao trabalho, sobre como estabeleci para mim própria um limite e ao longo do mês deixei de me sentir culpada por sair a horas e só me senti culpada por sair depois da hora, como se estivesse a trair um acordo feito comigo mesma. Não escrevi sobre crises de liderança, apesar de o tema andar comigo há meses, não escrevi sobre a dificuldade de lidar com equipas que não o sabem ser, não escrevi sobre as dificuldades de tentar liderar, não escrevi sobre a sensação de felicidade ao apresentar uma campanha que me saiu em esforço e ser elogiada, não escrevi a continuação de ser um canivete suíço (nem respondi ainda aos comentários, desculpem!!!).
Não escrevi sobre o que me foi passando pela cabeça durante a FNAC Talk da Capicua, não escrevi sobre o fascínio que é assistir a apresentações de livros, apesar de ter assistido a três este mês (a da Lénia e as duas da Rita), não escrevi sobre as múltiplas premissas que me ocorreram antes, durante e depois da sessão do Hugo Gonçalves em Matosinhos, não escrevi sobre a Carolina de Deus e aquilo que me ocorreu sobre a música pop portuguesa, ainda nem sei como vou escrever sobre o impacto de a Taylor ter adquirido os masters de todo o seu catálogo nem sobre participar pela primeira vez na sessão do Book Club da Fnac.
Admito que ainda não tive coragem para refletir devidamente sobre os resultados das eleições, sobre a raiva, sobre o medo, sobre termos novamente de sentir direitos fugir-nos, incluindo o direito ao abordo. Mais do que faltarem palavras, tem-me faltado coragem para tentar analisar algo tão complexo e tão impactante.
Talvez tenha sido porque andei muito fora de casa, porque foi muita coisa a acontecer, porque num dia tinha de recuperar o cartão do cidadão e no outro tinha de comprar farolins novos para o carro, porque num dia parecia outono e no outro estava um dia de verão insuportável, porque a francesinha do mês desapontou, porque as sessões de escrita não foram tão produtivas, porque até os problemas dos meus amigos me faziam ganhar questões sobre as quais precisava de pensar.
Acho que em maio tudo esteve fora de ordem, confuso, corrido. Maio foi um mês em que dei menos de mim à escrita, às minhas coisas, mas, na verdade, tudo à minha volta me deu muito. Menos tempo. Precisava de mais tempo. Mas já é junho e junho traz sempre tempo.
Esta semana no daylight
Finalmente escrevi sobre A Vida Mentirosa dos Adultos, no meu regresso à obra da Elena Ferrante.
A viver nas páginas de…
Piranesi, de Susanna Clarke
Maio também não permitiu muita fluidez nas leituras, por isso venho para junho com dois livros começados e quatro aos quais não cheguei. No entanto, além do desafio de autores para 2025, junho veio com três livros que me interessam no Clube do Livra-te, por isso acabei por ajustar a lista de leitura para este mês para incluir os que não li e dar espaço aos clubes de leitura. Provavelmente, vou tentar equilibrar leituras ao longo do mês.
Para já, vou começar pela leitura conjunta do Discord do Livra-te: Piranesi. Quero lê-lo há algum tempo e fui deixando passar, mas ser leitura conjunta parece-me a desculpa ideal para finalmente o ler — ainda por cima está incluído no Kobo Plus, em português. A sinopse da tradução diz assim:
Dia após dia, Piranesi regista clara e cuidadosamente nos seus cadernos de apontamentos as maravilhas da casa invulgar onde habita: o infindável labirinto de salões, os corredores sem fim à vista, os milhares de estátuas que se alinham pelas suas paredes, nenhuma igual à anterior, as marés que irrompem escadas acima, as nuvens que se deslocam em lenta procissão pelos salões do piso superior. Piranesi vive para explorar a própria casa. Às terças e sextas-feiras, recebe a visita de o Outro, que o auxilia no estudo do Grande Conhecimento Secreto.
Contudo, começam a surgir estranhas mensagens escritas a giz no pavimento da Casa. Há seres novos na Casa. Mas quem são e o que pretendem? São amigos ou trarão a destruição e a loucura como o Outro defende?
Textos perdidos têm de ser encontrados. Há segredos que têm de ver a luz do dia. E o mundo que Piranesi que pensava até então conhecer, começa a tornar-se estranho e perigoso.
Recomendação aleatória da semana
Ponto Final, Parágrafo com a Rita da Nova
A Rita foi novamente convidada da Magda Cruz no Ponto Final, Parágrafo, desta vez para a rubrica de melhores livros, em que, no final de cada mês, a Magda convida alguém para ir falar daquilo que andou a ler ao longo do mês. Adorei a conversa que se desenrolou entre as duas… a minha carteira é que não.
Coisas que iluminaram a semana
Apresentei uma proposta de campanha
Pela primeira vez, calhou-me apresentar a campanha digital em que tenho estado a trabalhar nas últimas semanas. Apesar de saber que a campanha está bem composta e que é importante, além de estar mais completa do que as semelhantes que tenho visto, estava preocupada com o facto de a ir apresentar ao presidente. Felizmente, correu muito bem e fiquei mesmo contente por ter percebido que consegui surpreendê-lo e mostrar-lhe algo bom.
A Taylor voltou a ser dona de todo o seu catálogo
War is over… que é como quem diz: todo o catálogo da Taylor voltou à sua criadora. Além do impacto cultural que isto tem, acho que é o encerrar certo de um ciclo. Os Taylor’s Version são muito importantes e, para mim, em muitos casos substituem facilmente os originais, mas admito que tinha saudades dos pormenores de 1989 original e até da versão misógina de Better Than Revenge. Agora voltaram todos a casa. Valeu a pena.
Até já,