234. o outro lado da escrita
esta começa com as coisas que iluminaram a semana e tem ainda um álbum e um podcast.
Coisas que iluminaram a semana: o outro lado da escrita
Eu sei, este é o segmento final, mas quando comecei a escrever este texto percebi que ia dedicá-lo àquilo que iluminou a minha semana. Foi uma semana atípica, mas que adorava que pudesse ser típica. No trabalho não foi particularmente positiva, nem foi boa para manter rotinas, mas admito que foi esta quebra de rotina que trouxe a parte boa.
Terça-feira: Encontro com Autores
Estava indecisa em relação à minha ida, mas ainda bem que meti a preguiça de lado e fui. O Hugo Gonçalves foi o convidado deste mês do Encontro com Autores, projeto do Plano Municipal de Leitura de Matosinhos, numa sessão que decorreu ao fim da tarde na Biblioteca Florbela Espanca. Tinha terminado Filho da Mãe no fim-de-semana e ainda estou arrebatada, pelo que queria muito ouvir o Hugo falar sobre coisas.
A sensação que tenho sempre que ouço entrevistas ao Hugo é a de que podia ouvi-lo durante horas e foi exatamente o que senti ali — de repente estava a terminar e eu sem perceber como tinha passado uma hora e meia e eu ainda queria ouvi-lo durante mais um bocado. Naquele tempo deu para falar de tanto e mesmo assim soube a pouco.
Apesar de gostar muito de ouvir o Hugo, a verdade é que ainda tenho muito que explorar na obra dele, no entanto já o tenho como referência na escrita e também foi por isso que sinto que a sessão dele fez tão bem à minha semana. Diz-se muito que a escrita não se faz só dos momentos em que estamos a escrever, mas de tudo o que absorvemos do mundo que nos rodeia e estas conversas com artistas, principalmente com escritores, parecem ajudar-nos a crescer na escrita de uma forma que não aconteceria se nos fechássemos num espaço qualquer a escrever.
Quinta e sexta-feira: Apresentações de Apesar do Sangue no Porto, com jantar de amigas, almoço e uma tarde inteira de conversa com a Rita
A Rita veio apresentar o Apesar do Sangue ao Porto, em duas sessões distintas. A primeira, na quinta-feira, foi na Note! da Trindade e, logisticamente, não correu muito bem, mas gostei muito de ouvir a Bruna Martiolli. Comecei a acompanhar o trabalho da Bruna no início do ano e os vlogs dela têm sido um momento de conforto, mas é quando a ouço falar sobre literatura que percebo que aquela mulher tem um nível de conhecimento ímpar. Na segunda sessão, na Fnac do NorteShopping, a moderação foi feita pelo Álvaro Curia e pelo Ludgero Cardoso, do Literacidades, e, com uma dinâmica diferente, foi também uma sessão muito completa, dinâmica e interessante.
Sei que posso simplesmente abrir o Whatsapp e saber o que quiser sobre o livro, mas ver a Rita apresentar o terceiro livro (!) foi muito bonito. Em primeiro lugar, admito que me emociona ver a minha amiga evoluir na escrita e perceber que chega a cada vez mais pessoas. Em segundo lugar, acho que sempre que a vejo apresentar um livro novo ganho esperança. Vivemos numa época em que até se vendem mais livros e ler parece ser cool, mas também é uma época em que vemos pessoas publicar livros de pouca qualidade só porque têm seguidores nas redes sociais ou porque conhecem alguém que conhece alguém. No meio de tudo isto é bom ver quando quem tem qualidade consegue mostrar o seu trabalho e ser bem sucedido.
Aproveitando as apresentações, jantámos na quinta-feira e passámos a tarde na conversa na sexta e não vou fingir que tivemos conversas altamente intelectuais, mas sabes quando passas tempo com amigos e sentes que isso fez mais por ti do que qualquer outra atividade de relaxamento que pudesses tentar? Tive essa sensação nestes dias, mas também no sábado, no brunch e no passeio com outra amiga.
Este mês tem sido muito desorganizado e, com essa desorganização, tem vindo uma dificuldade em saber reagir, em parar. E sei que dá sempre a sensação de o tempo não chegar para nada, de não ter descansado nada, mas são estas coisas que tornam os dias melhores, que fazem valer a pena. São estas coisas que dão a sensação de estarmos no sítio certo, de termos uma sorte gigante em poder ouvir estas pessoas, conversar com elas.
É raro sentir que uma semana em que mal escrevi foi ótima para a escrita, mas esta foi uma semana ótima para a escrita. Na verdade, foi uma semana ótima para vida. Mesmo quando achamos que estamos completamente perdidos, desgastados, desinspirados, haver algo que nos dá alento, nos revitaliza, nos ajuda a sentir que não está tudo perdido é uma sensação boa. É saber que continuamos a fazer o melhor por nós, pela nossa escrita. E, enquanto a escrita não pode ser o principal da minha vida, é aproveitar estes momentos em que parece que é.
Esta semana no daylight
Podia escrever sobre a atualidade, mas achei a reflexão sobre memória trazida pelo Ainda Estou Aqui, livro de Marcello Rubens Paiva adaptado para cinema, com a icónica Fernanda Torres como protagonista, uma excelente forma de pensar também sobre o que tem acontecido por cá;
E já que estamos em modo reflexão, aproveitei o Dia do Autor Português para escrever sobre cansaço e o impacto que este tem na escrita. Afinal, já dizia a Capicua que o cansaço é inimigo da poesia.
A viver nas páginas de…
Small Worlds, de Caleb Azumah Nelson
Ainda não terminei A Origem dos Dias, o livro do Miguel D’Alte de que falei na última edição. Este mês não tem sido propício a leituras e este livro, que está a demorar a conquistar-me, não melhora a sensação de que ando a ler pouco. Ainda assim, confiante de que vou terminar em breve, já estou de olhos postos no próximo livro da minha TBR.
Small Worlds esteve na minha TBR de outubro, mas o caos da vida aconteceu e acabou por ficar por lá perdido. De certa forma, acho que fui adiando porque gosto da sensação de saber que tenho algo do Caleb Azumah Nelson por ler. Admito: as expectativas estão muito elevadas.
Small Worlds já tem tradução em português — Pequenos Mundos —, mas deixo-te a sinopse original, em inglês:
Set in London and Ghana across three summers, Small Worlds is an intimate and powerful exploration of a son-father relationship, music, and searching for meaning from the acclaimed author of Open Water.
The one thing that can solve Stephen's problems is dancing. Dancing at Church, with his parents and brother, the shimmer of Black hands raised in praise; he might have lost his faith, but he does believe in rhythm. Dancing with his friends, somewhere in a basement with the drums about to drop, while the DJ spins garage cuts. Dancing with his band, making music which speaks not just to the hardships of their lives, but the joys too. Dancing with his best friend Adeline, two-stepping around the living room, crooning and grooving, so close their heads might touch. Dancing alone, at home, to his father's records, uncovering parts of a man he has never truly known.
Stephen has only ever known himself in song. But what becomes of him when the music fades? When his father begins to speak of shame and sacrifice, when his home is no longer his own? How will he find space for himself: a place where he can feel beautiful, a place he might feel free?
Set over the course of three summers in Stephen's life, from London to Ghana and back again, Small Worlds is an exhilarating and expansive novel about the worlds we build for ourselves, the worlds we live, dance and love within.
Recomendação aleatória da semana
Um Brinde ao Agora, o novo álbum da Nena
Quando conheci a música da Nena já portas do sol era conhecido por meio mundo. Felizmente fui a tempo de acompanhar o crescimento da Nena até este segundo álbum, Um Brinde ao Agora, lançado no passado dia 16 de maio. Além de gostar muito da Nena enquanto letrista, gostei muito da construção que fez neste álbum, numa mistura de baladas com pop-rock que resulta muito bem.
O podcast do Guilherme Fonseca, Má Ideia
Estava a tentar pôr em dia os meus podcasts e, ao ouvir o #46, apercebi-me de que ainda não tinha recomendado aqui o Má Ideia, o podcast que o Guilherme Fonseca criou como uma espécie de diário de preparação do solo de stand up que irá fazer em 2026. Os episódios, ordenados de forma decrescente, vão acompanhando o processo de preparação do solo, mas também algumas reflexões e partilhas do Guilherme sobre humor. Como recomendação, deixo o episódio em que o Guilherme fala sobre os programas diários do Isto é Gozar Com Quem Trabalha.
Até para a semana,