230. prestar atenção à primavera
Camélias, vários livros, uma recomendação de série e a francesinha do mês
ela chamava-lhe cidade das camélias e eu, embora as visse às dezenas, não sabia ao certo como lhe explicar que a primavera não me interessava muito. era só a época das alergias. só mais tarde percebi que as camélias e as magnólias eram para ela aquilo que se tinham tornado para ela, que não crescera aqui: a definição de casa.
No Parque de São Roque há cerca de duzentas camélias. Antes de conhecer as camélias do Porto nunca lhes tinha achado muita graça. As que conhecia eram pequenas e, percebo agora, cresciam quase confinadas, sem espaço para poderem crescer livremente e mostrarem a sua beleza. Depois conheci as do Porto e, não fosse esta a Cidade das Camélias, percebi que nunca tinha visto uma camélia como deve ser. Tive pena de todas as outras camélias com as quais me tinham cruzado até então. Demasiada distraída por aquilo que as rodeava, nunca lhes prestei a devida atenção. Agora paro sempre que vejo uma camélia florida.
A minha amiga Inês publicou esta semana um texto que começa com a frase que sinto que resume um dos pensamentos mais importantes que tenho tido: Desconfio que só começamos a prestar a atenção à primavera em adultos. Enquanto a lia pensava que sim, era mesmo aquilo. Não me lembro de, adolescente, ter um gosto tão grande em ver magnólias florir, em começar a ver pontinhos brancos e amarelos brotar no meio da relva.
Talvez seja porque em adultos deixamos de tomar coisas por garantidas e começamos a prestar atenção aos pormenores que tornam o mundo que nos rodeia algo familiar. Perdemos inocência, mas ganhamos sensibilidade. De repente, as primeiras flores de magnólia humedecem-nos os olhos e não é pelas alergias. De repente, faz ainda mais sentido que alguém tenha um dia dito que não era o único a olhar o céu.
Esta semana no daylight
Foi semana de Dia Mundial do Livro e, aproveitando o facto de ter várias reviews em atraso, as publicações foram dedicadas a livros:
Comecei com My Mess is a Bit of a Life, livro de memórias da Georgia Pritchett;
Escrevi sobre um dos livros de poesia do Sérgio Godinho, O Sangue por um Fio;
A leitura conjunta do Clube do Livra-te de março foi All My Rage, da Sabaa Tahir;
Voltei à poesia, desta vez para falar de um livro que adorei: Vem à Quinta-feira, de Filipa Leal;
Já que estamos em livros que adorei: Silêncio no Coração dos Pássaros, o mais novo da Lénia Rufino;
E, por fim, escrevi sobre Três, da Valérie Perrin.
A viver nas páginas de…
O Tempo Entre Costuras, de Maria Dueñas
A Rita comentou num episódio do Livra-te que andava a adiar a leitura de O Tempo Entre Costuras e eu, que andava a fazer o mesmo, desafiei-a para lermos ao mesmo tempo. O facto de ser um livro enorme acabou por ser um fator de afastamento, mas as páginas iniciais dizem-me que não há nada a temer. Esta é a sinopse do livro da Maria Dueñas:
«O Tempo entre Costuras» é a história de Sira Quiroga, uma jovem modista empurrada pelo destino para um arriscado compromisso; sem aviso, os pespontos e alinhavos do seu ofício convertem-se na fachada para missões obscuras que a enleiam num mundo de glamour e paixões, riqueza e miséria mas também de vitórias e derrotas, de conspirações históricas e políticas, de espias.
Um romance de ritmo imparável, costurado de encontros e desencontros, que nos transporta, em descrições fiéis, pelos cenários de uma Madrid pró-Alemanha, dos enclaves de Tânger e Tetuán e de uma Lisboa cosmopolita repleta de oportunistas e refugiados sem rumo.
Recomendação aleatória da semana
High Potential
Nota-se que estou de férias quando, do nada, devoro seis episódios de uma série. Estávamos a ver televisão à hora de almoço e, na Star Life, deu um anúncio de High Potential. Como não tenho grandes hábitos de ver televisão, não conhecia, mas percebi que ia estar a dar em maratona durante o dia e acabei por ver os primeiros seis episódios.
High Potential é a adaptação americana de HPI, uma série franco-belga. A série é protagonizada por Kaitlin Olson, que dá vida a Morgan, uma mãe solteira que trabalha como empregada de limpeza e se torna consultora na Polícia de Los Angeles.
Coisas que iluminaram a semana
Francesinha do mês: Yuko Tavern
A minha mãe e a Lady vieram passar uns dias comigo ao Porto e não podia deixar de haver uma refeição que incluísse francesinha. Neste caso, como chegámos à hora de almoço, mandei vir para casa a francesinha tradicional da Yuko Tavern (que até é aqui perto de casa). Foi a minha estreia na Yuko e gostei muito da francesinha, com molho picante q.b. Apesar de achar que o serviço de take away foi bom, hei de experimentar o restaurante em si.
Até dia 1 🤔,
Desde miúda, sempre gostei muito de observar o céu. Gostava de ver o formato das nuvens, de as ver passar. Agora, desde que trabalho na minha cidade, tenho o privilégio de ir a pé para o trabalho e tenho prestado mais atenção à mudança das estações: as folhas a cair, as árvores despidas, as folhas e as flores começarem a mostrar-se, revelando a mudança da estação...e não há nada mais bonito. Acho a Natureza e o tempo muito poético e perco-me completamente nessas pequenas coisas.