229. compêndio de reflexões sobre férias.
sobre férias, com funk e Elena Ferrante à mistura.
Pela primeira vez na vida de trabalhadora sou a pessoa que esperou pela época dos feriados para tirar férias. Entre Páscoa, 25 de abril, Dia do do Trabalhador, pus-me a contar tolerâncias de ponto e feriados e consegui sete dias de férias em dezassete dias e meio sem trabalhar. Sim, já houve uma altura em que trabalhei onze meses seguidos sem férias, mas estes nove meses foram mais devastadores.
Passei as últimas semanas a ter como motivação o aproximar das férias. Primeiro tinha de ensinar uma nova pessoa, mas pelo menos depois ia de férias. Estávamos assoberbados de trabalho porque só somos duas pessoas e uma ainda está a aprender, mas pelo menos depois ia de férias. Estou farta de ser canivete suíço e ter de passar 99% do meu tempo a fazer mil tarefas que não tenho de saber fazer, mas pelo menos depois ia de férias. Estou a trabalhar horas extra constantemente, mas pelo menos depois ia de férias.
Como tenho passado as últimas semanas a pensar em férias, tenho também pensado muito sobre férias: esperar por férias, ir de férias, o que fazer em férias. É mesmo isso: o tema de hoje são férias. Muitas reflexões sobre férias.
É muito triste esperar por férias.
Por um lado, porque parece que são só aqueles 22 dias úteis por ano que nos permitem viver alguma coisa. Por outro lado, porque se não usarmos as férias para terminar realmente os maus hábitos que criámos no trabalho então vamos só fazer uma pausa para depois voltarmos ao mesmo de sempre (ou a algo pior ainda).
E claro que conseguimos viver fora desses 22 dias úteis, mas às vezes a sensação não é essa. Principalmente quando deixamos que tudo fique desregulado e quando o ambiente promovido à nossa volta promove essa desregulação. Mas sobre isso falamos noutra altura.
Desliguei o computador ao início da tarde de quinta-feira e pensei nos dezassete dias que vou passar sem ter de pensar nas tarefas que me esperam naquele computador. Sinto que preciso mesmo desta pausa para poder regressar em maio com novos limites estabelecidos. E não é que não saiba precisamente o caos que me espera, mas conheces aquela sensação de não dá para tudo e vou deixar de fingir que dá? Pronto, é o que vou fazer. Aliás, já fiz. Deixei tarefas por fazer em que só pegarei em maio. É o que é. Eu sou só uma, a pessoa que tenho na equipa só está há dois meses, chega de fingir que conseguimos tudo feito para ontem. Por que raio insistimos em fazer mais se o reconhecimento que temos é menos?
E vais de férias para onde?
Queres ver expressões de desilusão? Espera que um colega que te pergunte para onde vais de férias e diz: vou estar pelo Porto e vou uns dias para casa da minha mãe. São as melhores expressões de desilusão que vais ver.
Nem uma capital europeia, nem uma viagem de avião. Que raio de férias serão essas em que planeias só estar na cidade onde vives ou na aldeia onde a tua mão vive? Parece exagero, mas juro que a desilusão em certos momentos pareceu pena. E eu também tenho pena… de não ter orçamento para viajar.
Desde quando é que ter férias se tornou sinónimo de ter de ir obrigatoriamente para algum lugar diferente?
Quais são os planos de férias?
Depois de ter desiludido colegas com os meus destinos de férias, mantive-me na margem de segurança quando a pergunta passou a focar-se nos meus planos de férias. Que resposta não iria suscitar olhares de desilusão? Testei uma: vou só desligar, que estou a precisar. Resultou. Ninguém questionou além disso e todos pareceram achar que era um excelente plano.
Ainda bem que não disse que o meu plano é ler, dormir sestas, escrever. Coisas que nem sempre consigo fazer no dia-a-dia de forma plena porque o trabalho me sugou a energia mental. Dormir sestas talvez fosse uma atividade aprovada, mas quer-me parecer que apresentar a lista de livros que quero ler talvez não fosse ter o mesmo efeito.
Lista de livros para as férias
Terminar Fundamentos de Marketing — que entretanto já terminei, depois de meses;
O Meu Marido, de Maud Ventura — que também já terminei;
Terminar Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho;
A Vida Mentirosa dos Adultos, da Elena Ferrante;
Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva;
Maybe you should talk to someone, de Lori Gottlieb;
Terminar One in a Millennial, de Kate Kennedy;
O Tempo Entre Costuras, de María Dueñas;
Great Big Beautiful Life, de Emily Henry.
Sim, eu sei que são só duas semanas. Não, não tenciono alterar a lista.
Atividades de férias muito aguardadas
Dormir sestas sempre que me apetecer;
Apanhar sol;
Levar a Lady a passear na praia;
Ir comer francesinha;
Finalmente acabar de escrever as reviews de livros que tenho em atraso;
Ir ao Parque da Cidade;
Ir ao Parque de São Roque;
Levar o carro à inspeção (isto é zero entusiasmante, mas são obrigações da vida adulta).
E pronto. Agora vou ali aproveitar as férias.
Esta semana no daylight
Se eu ganhasse um euro por cada vez que escrevo aqui que foi uma semana fraca em conteúdos… mas foi mesmo. Esta semana voltei a só publicar duas vezes.
Escrevi Bolo Negro, o livro da Charmaine Wilkerson que prometia muito, mas não entregou;
E, claro, tinha de escrever sobre a minha noite de domingo, passada com o Pedro Sampaio, no Super Bock Arena.
A viver nas páginas de…
A Vida Mentirosa dos Adultos, de Elena Ferrante
Foi uma das minhas compras da Feira do Livro do Porto no ano passado e, com a Elena Ferrante a ser lida nos clubes de leitura em que participo, achei que estava mais do que na hora de matar saudades da escritora italiana.
Estou desejosa de voltar a Nápoles através das palavras da Ferrante e acho que é o livro ideal para dar início às minhas férias. A sinopse, essa, diz assim:
«Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia» é a frase inicial deste romance. A revelação é feita por Giovanna, que ao olhar paterno se transformara de criança encantadora em adolescente imprevisível, que parecia tornar-se cada dia mais parecida com a desprezada tia Vittoria.
A frase ouvida sem que os pais o soubessem vai levar Giovanna a procurar conhecer a tia, cujas fotografias foram apagadas dos álbuns de família e é evitada em todas as conversas.
Para saber se estará realmente a tornar-se semelhante à tia, vai visitar a zona empobrecida de Nápoles, a conhecer uma versão diferente dos seus pais, provocando sem o saber a desagregação da sua família intelectual, compreensiva e perfeita na aparência.
Confirmando a sua mestria narrativa e o profundo conhecimento do que se passa na cabeça das adolescentes, Ferrante constrói um enredo surpreendente, ligando uma história de iniciação aos episódios de uma pulseira que passa de mão em mão. Giovanna move-se entre duas famílias e duas zonas da cidade em busca dela própria, na passagem da adolescência para a idade adulta.
Coisas que iluminaram a semana
Pedro Sampaio no Super Bock Arena
O Pedro Sampaio não me passou despercebido quando passámos o verão de 2022 a cantar Dançarina, mas só muitos meses depois, quando a música do A. começou a entrar pelas minhas playlists dentro, é que acabei por prestar a devida atenção. Com ASTRO, saído em setembro, acho que podemos dizer que a aprendiz se tornou a mestre porque foi um dos álbuns que mais ouvi no final do ano. Claro que, sendo sincera, não esperava que isto resultasse em comprar bilhetes para a plateia do concerto no Super Bock Arena. Mas resultou. O resto podes ler aqui.
Até para a semana,
Passei exatamente por a mesma experiência recentemente, quando fui de férias. Cheguei a sentir pena de mim mesma por não viajar para nenhum destino estrangeiro. E, depois, terminadas as férias, vem o pensamento: tenho mesmo de voltar ao loop? Mas, como tu, acho que o sinónimo de recarregar baterias é descansar, ler e escrever. Agora que voltei ao trabalho, estou mais motivada para continuar a fazer essas atividades no tempo livre.
A ler isto de férias e a pensar "melhores planos de férias" até porque os meus são parecidos. E é mesmo bom ter férias para descansar em vez de ter mil planos e viagens, porque também é preciso parar.