225. ganhar mundo.
dar mundo, um episódio de podcast, a francesinha do mês e o concerto do Bispo.
Vinha a conduzir na A25 há duas semanas, o sol a querer aparecer entre nuvens escuras. Nestas viagens longas coloco um ou dois episódios de podcast entre a minha playlist habitual. Tinha ouvido um e naquele momento a música tocava alto. Nininho Vaz Maia. Seguido de Ana Castela. Seguida de Taylor Swift. Seguida de outra do Nininho.
A maneira como vamos vendo o amor e as relações não é tão díspar quanto a minha playlist pode parecer, mas encadeia-se em crescendo. Tudo aquilo que queria em adolescente era alguém que fosse todo o meu mundo. Honestamente, o amor nessa altura parecia-me isso, toda aquela ideia de és o meu mundo. Se não fosse assim quase parecia que não era verdadeiro. Nem sempre era algo consciente, mas por vezes acho que todos achávamos que todo o nosso mundo era aquela pessoa.
Depois as coisas começam a mudar. Percebemos que para alguém ser todo o nosso mundo isso significa perdermos o mundo que já era nosso antes. Não é assim tão bonito, romântico ou saudável. Afinal não é mais verdadeiro por ser tudo. Por vezes perdemo-nos antes de chegar a esta descoberta e, quando nos encontramos, percebemos por fim que o pacto que temos de fazer não é com o amor que é todo o nosso mundo, mas sim com o amor que temos por nós mesmos.
Talvez passemos pela tentativa de acreditar que o amor vai resultar em dois mundos separados. Que nos safamos de boa se cada um tiver o seu mundo e eles se tocarem o mínimo possível. E vai resultando… até percebermos que até tentamos ver filmes da Marvel porque ele adora, que deixamos de comprar iogurtes com pedaços porque ele não gosta, que nunca é a nossa música a tocar quando estamos juntos, que nunca somos nós a escolher os filmes.
Percebemos que nenhum mundo funciona fechado, mas que não podemos ser só nós a deixar que o nosso mundo se mostre disponível para novos pormenores. Percebemos que aquilo que temos de procurar no outro é ganhar mundo, dar mundo.
É assim que dou por mim com Nininho Vaz Maia e Ana Castela no meio da minha playlist. As minhas músicas tocam com as músicas dele e descobrem músicas nossas. O meu mundo todo não se resume a uma pessoa, mas parece ter aumentado com uma pessoa. Quando penso naquilo que a vida me trouxe desde aquele início de setembro em que estava de coração partido aquilo que sinto destes anos é que ganhei mundo. Não foi ele que me deu o mundo todo que ganhei, mas dá-me muito mundo. E estou capaz de jurar que o meu mundo é melhor e mais bonito porque ele me ofereceu mundo.
Esta semana no daylight
Foi uma semana de livros:
Escrevi sobre a novela gráfica Comer/Beber, da dupla Juan Cavia e Filipe Melo;
Publiquei sobre Esquecidos de Domingo, da Valérie Perrin, que não só foi a escolha do mês no desafio de autores para 2025 mas também é um candidato a favorito do ano;
Por fim, celebrei o Dia Mundial da Poesia com uma wishlist: alguns livros de poesia que quero comprar.
A viver nas páginas de…
All My Rage, de Sabaa Tahir
Comprei o ebook em janeiro do ano passado e deixei-o ficar de molho no kindle. Como acabou por ser votado para leitura conjunta do Clube do Livra-te para março, senti que foi o empurrãozinho ideal para finalmente o ler. Apesar de ser um livro para público-jovem adulto, as opiniões que fui vendo dizem que é um livro que, na verdade, não se rege pelas marcas textuais habituais das obras para este público. Deixo-te a sinopse, em inglês:
Lahore, Pakistan. Then.
Misbah is a dreamer and storyteller, newly married to Toufiq in an arranged match. After their young life is shaken by tragedy, they come to the United States and open the Clouds' Rest Inn Motel, hoping for a new start.
Juniper, California. Now.
Salahudin and Noor are more than best friends; they are family. Growing up as outcasts in the small desert town of Juniper, California, they understand each other the way no one else does. Until The Fight, which destroys their bond with the swift fury of a star exploding.
Now, Sal scrambles to run the family motel as his mother Misbah's health fails and his grieving father loses himself to alcoholism. Noor, meanwhile, walks a harrowing working at her wrathful uncle's liquor store while hiding the fact that she's applying to college so she can escape him - and Juniper - forever.
When Sal's attempts to save the motel spiral out of control, he and Noor must ask themselves what friendship is worth - and what it takes to defeat the monsters in their pasts and the ones in their midst.
From one of today's most cherished and bestselling young adult authors comes a breathtaking novel of young love, old regrets, and forgiveness - one that's both tragic and poignant in its tender ferocity.
Recomendação aleatória da semana
Episódio 207 do [IN]Pertinente: Sociedade - Habitação: o novo luxo português?
O episódio desta semana do [IN]Pertinente traz excelente food for thought. Que mais não seja porque pago uma renda de um quarto e já pensei muitas vezes no quanto parece impossível um dia poder ter uma casa só para mim, o tema habitação acaba por ter uma grande relevância na minha vida, assim como terá na vida de muitas pessoas. Este episódio, conduzido pelo Hugo Van Der Ding, mexe na ferida, é certo, mas é preciso falar do assunto, compreender o que se passa, saber explicar como chegámos aqui… mesmo que ninguém saiba como vamos sair daqui.
Coisas que iluminaram a semana
Francesinha do mês: Lado B (ou voltar onde fomos felizes)
O ano era 2017 e eu e a minha mãe tínhamos, pela primeira vez, férias em família. Escolhemos o Porto, para onde eu já queria mudar-me há dois anos, embora sem pressa. Naquele dia, o penúltimo que passávamos na cidade, passámos a manhã na visita ao museu e ao Estádio do Dragão e o almoço tinha de ser francesinha. Escolhi o Lado B para a minha primeira francesinha portuense. Ontem fui procurar o que tinha escrito sobre o lugar na altura e sei que a Sofia de 2017 ficaria muito feliz com o lugar onde está porque escrevi:
Talvez volte, no entanto, como tenciono comer muitas francesinhas do Porto ao longo da vida, quero também experimentar outros restaurantes, claro.
Falando da comida em 2025. Gostei muito do molho, em que mal se sente o picante. Em contrapartida, a linguiça é, sim, picante. Gostei da carne também, mas gostava de que o pão estivesse mais torrado. O atendimento tornou-se mais lento quando a casa começou a ficar a abarrotar, mas pelo menos manteve-se simpático. Ainda comi um belo crumble de maçã. No final, entre francesinha (com ovo e batatas à parte), sobremesa, bebidas e café, ficou a 24,75€ a cada uma.
Bispo ao vivo no Coliseu do Porto
Como se fosse preciso mais um artista para mostrar a multiplicidade musical que habita por estes lados, agora passamos ao rap português. Quando conheci o Bispo no dueto com a Bárbara Tinoco, em 2023, não contava que, um ano depois, ele participasse numa música que ia acabar por se tornar uma das minhas músicas preferidas de sempre. A Bênção, feita em parceria com o Mizzy Miles e o Van Zee, fez-me explorar a discografia do rapper e ainda bem que o fez.
Hei de alongar-me sobre o concerto no blog, mas praticamente duas horas e meia de espetáculo fizeram-me ter a certeza de que, cada vez mais, a música portuguesa tem sido um dos melhores escapes criativos para mim. O Bispo deu um concerto cheio de interação, emoção (pode ou não ter havido um rio de lágrimas no discurso pós-Aviola II), gargalhadas e muito ritmo. Trouxe ao Porto o Diogo Piçarra, o Kappa Jota, o Julinho Ksd e, claro, o Van Zee e o Mizzy Miles. Fez dançar muito e deu-me a certeza de que estes rappers são uns amorzinhos, sempre emocionados com o mundo, sempre prontos a emocionarem-nos.
Até para a semana,
Deixa-me recomendar-te mais um livro de poesia: A Importância do Pequeno Almoço de Francisca Camelo