Escrevi o título deste texto na segunda-feira à noite e depois pensei: pode ser que no fim-de-semana saiba como explicar isto. Nos últimos meses, só tenho conseguido escrever entre sábado e segunda-feira. Parece que fiz um pacto qualquer e já é certo que de terça a sexta-feira não saem palavras. Está bem, não é assim tão linear nem tão dramático, mas passo a semana a listar coisas para escrever ao fim-de-semana. Se tiver uma segunda-feira tranquila talvez chegue a casa e escreva ao fim do dia. No resto da semana só ligo o computador para ouvir música, talvez ver qualquer coisa no Youtube, e olhar para o que quero escrever no fim-de-semana. À mão escrevo muito… na lista de tarefas que parece nunca diminuir. Parece que o meu cérebro não está para processar palavras. Se calhar não está mesmo.
Honestamente, não sabia se ia desenvolver este título no fim-de-semana. Quantas vezes não apontamos frases que não desenvolvemos posteriormente porque deixam de fazer sentido ou deixamos de saber o que dizer sobre elas? Acontece-me muito apontar uma frase ou uma ideia e depois deixá-la ficar perdida no meio de tantas outras que me pareciam excelentes, mas nunca deram resultados. Desta vez não foi assim, porque, como tantas vezes já aconteceu, toda a semana pareceu andar à volta da mesma ideia. Na verdade, todo o mês — todo o ano? — tem parecido andar à volta da mesma ideia.
Por isso lá estava eu na quinta-feira, na terapia, a relatar as últimas semanas e a confessar ataques de ansiedade, horas extra, noites mal dormidas durante a semana, stress constante, quando a psicóloga pergunta: Então e o resto? Ler, escrever…? Admito que respondi orgulhosa que leio todos os dias durante, no mínimo, os dez minutos do pequeno-almoço. Também me senti muito orgulhosa quando disse que tenho combinado coisas constantemente com amigos. O orgulho só se começou a desfazer quando tive de confessar que só tenho escrito ao fim-de-semana. E daí foi-se desfazendo mais à medida que admiti que mesmo quando saio às vezes me sinto culpada porque devia estar a aproveitar para fazer qualquer coisa que nem sempre tenho tempo de fazer durante a semana. Isto tudo até não restar qualquer orgulho quando percebi que só o facto de não estar a escrever é um sinal de alerta sobre o estado da minha mente.
Quando digo que tenho sentido falta de mim quero dizer que tenho sentido falta de escrever mais. Tenho sentido falta de sentir que estou realmente a trabalhar para a carreira (seja lá isso o que for) que quero ter. Tenho sentido falta de não estar completamente K.O. às nove da noite. Mas, ao mesmo tempo, acho que é injusto dizer que tenho sentido falta de mim quando tenho conseguido refugiar-me por completo aos fins-de-semana, quando tenho lido com a regularidade habitual, quando tenho conseguido estar frequentemente com amigos, quando arranjo sempre tempo para nós.
Se calhar não sinto falta de mim por completo. Se calhar sinto falta da parte de mim que sofre sempre que a ansiedade anda nos píncaros, que não tem espaço depois de um dia de trabalho com horas e stress extra, que precisa de boas noites de sono para funcionar. Não sei bem explicar-te, mas acho que tenho sentido falta de algo de mim. Só que hoje é sábado. Hoje as palavras já podem sair.
Esta semana no daylight
Comecei a semana a publicar sobre voltar a fotografar em análogico;
Escrevi sobre um livro infantil, o Cor-de-margarida, da Capicua;
E, por fim, descrevi a minha experiência com a Biblioled, a plataforma digital de empréstimo de ebooks.
A viver nas páginas de…
Bolo Negro, de Charmaine Wilkerson
Andava para ler Bolo Negro há uns anos, nunca decidindo realmente comprá-lo. Este livro parecia estar destinado a manter-se permanentemente na lista dos livros cujo preço vigio, mas não compro. No entanto, no início do ano combinei com a Andreia um empréstimo de livros e acabei por lhe pedir também este.
Vou partir para esta leitura sem saber ao certo o que esperar, uma vez que colecionei algumas opiniões díspares sobre mesmo e, por isso, não estou inclinada para nenhum tipo de sensação.
Deixo-te a sinopse, em português:
Os irmãos Byron e Benedetta não se veem há oito anos, mas a súbita morte da mãe obriga-os sentarem-se finalmente à mesma mesa. Eleanor deixou-lhes um bolo no congelador com a críptica instrução de que o deverão partilhar «na altura certa».
Para além do bolo, uma homenagem às origens caribenhas da família, há ainda uma longa gravação áudio que abre com uma revelação impensável: Byron e Benedetta têm uma irmã.
Este, porém, é apenas o primeiro dos muitos segredos que a mãe quer agora, depois de morta, revelar, na esperança de emendar alguns erros do passado.
Nesta estreia surpreendentemente madura, Charmaine Wilkerson explora com fina sensibilidade as questões difíceis da identidade pessoal e social, numa saga familiar intensa, que cruza o tempo e a geografia, fazendo-nos acreditar que é sempre possível regressar a casa.
Coisas que iluminaram a semana
Fomos ver o Porto à noite.
Na quinta-feira, com uma noite bonita, lua cheia pré-eclipse, metemo-nos no carro e fomos ver o Porto. Sim, adoro o Porto durante o dia, com aquela luz que lhe é tão característica, mas admito que tinha saudades do Porto à noite. Descemos até à marginal e fomos de uma ponta à outra da cidade, numa espécie de percurso das pontes. É tão bonito ver o nosso Porto assim, tranquilo e iluminado. Talvez seja ainda mais bonito vê-lo assim, com esta companhia. ✨
Até para a semana,
que especial! 🌸