219. terapêutico
dois episódios de podcast, um álbum, um filme e a francesinha do mês, entre outras coisas da semana.
Esta semana assinalou-se o Dia Mundial do Cancro, data comemorada anualmente no dia 4 de fevereiro. Este ano a campanha internacional tem como slogan United by Unique e pretende reunir as histórias únicas que cada um tem da sua experiência — direta ou indireta — com a doença. Um dos motes para esta partilha de histórias é: o cancro virou a minha vida ao contrário, mote que vinha com o desafio da partilha nas redes sociais de uma fotografia ao contrário (ou uma fotografia a fazer o pino, por exemplo). Trabalhando em marketing numa instituição que lida com a doença, andei particularmente atenta às partilhas que via sobre a data, li vários testemunhos de sobreviventes sobre como o cancro tinha virado as suas vidas ao contrário.
Não acho que tenha sido coincidência que a Union for International Cancer Control tenha incentivado à partilha de histórias pessoais. Cada vez mais temos de assinalar que algo não é terapia, mas é terapêutico e a escrita é algo que pode ter um enorme poder terapêutico — escrever sobre o que nos aconteceu pode ser uma forma de desconstrução e pode ter efeitos terapêuticos. Não tendo uma partilha sobre a doença para fazer, pelo menos não uma partilha na primeira pessoa, dediquei-me mais a ficar fascinada com o poder das palavras. Fico sempre.
Estou a poucas semanas de assinalar dois anos seguidos de psicoterapia. Cada vez mais, a terapia tem servido para organizar pensamentos sobre situações, mas às vezes falta-me o terapêutico, aquela dose diária recomendada de uma atividade que não é terapia, mas é terapêutica. Para mim também é a escrita, mas não só a escrita. Talvez tenha sido por isso que esta semana, com tantas partilhas que me remeteram para a escrita terapêutica, pensei seriamente sobre o quanto gostava realmente de dar oficinas de escrita. De incentivar pessoas a colocar palavras num papel não para escreverem um Nobel, mas para encontrarem a sua atividade que não é terapia, mas é terapêutica.
Sei que me falta algo. Não sei ao certo o quê, mas falta. Talvez descubra em terapia.
Esta semana no daylight
Não era a ideia inicial, mas esta semana foi dedicada exclusivamente a livros:
O primeiro livro da semana foi, curiosamente, o primeiro livro de 2025 e o primeiro livro da Susana Amaro Velho: As Últimas Linhas Destas Mãos. Lê-lo depois de ter lido o mais recente da autora foi muito curioso, porque as diferenças da escrita de um para o outro são abismais.
Logo de seguida, escrevi sobre A Mão Que Mata, o primeiro policial do Lourenço Seruya, inserido no desafio que eu e a Andreia criámos para 2025. Ainda há mais três livros da saga para ler ao longo do ano.
Por fim, veio Onde Cantam os Grilos, um livro da Maria Isaac que já tinha tentado ler há uns anos e ao qual só agora dei uma segunda oportunidade.
A viver nas páginas de…
Tenho aproveitado este espaço para falar dos livros que penso que vou ler durante a semana e este vai totalmente ao encontro do mood da semana:
How To End a Love Story, da Yulin Kuang
Eu sei, eu sei, na semana do São Valentim, onde tudo está cheio de corações, ursos de peluche, caixas de chocolate e flores, ler um livro que diz que vai falar sobre acabar uma história de amor é meio contraditório, mas não é destas contradições que se faz a vida?
Apesar de ter comprado o ebook no verão acabei por não lhe pegar na altura, mas quando estava a listar todos os livros que tenho por ler achei que ia assentar na perfeição em fevereiro. Não que eu ligue ao São Valentim, mas já que o estado de espírito coletivo é o do amor, porque não seguir por algo do género, que obviamente vai acabar bem apesar do título não o indicar?
O livro foi publicado pela Bertrand em agosto, por isso fica a sinopse em português:
Helen Zhang é uma escritora bestseller que dá tudo pela sua carreira. Conquistou até um lugar cobiçado na sala de guionistas da adaptação televisiva dos seus romances e, desde que consiga disfarçar a sua síndrome de impostor, certamente que o resto da sua vida também se vai encaixar. Hollywood é exatamente o recomeço de que ela precisa. Afinal de contas, ninguém a conhece. Ninguém, exceto… Grant Shepard.
Helen não voltou a ver Grant nos treze anos que passaram desde o trágico acidente que ligou as suas vidas para sempre. Grant fez tudo para seguir em frente, incluindo construir uma nova vida do outro lado do país, e, embora os ataques de pânico nunca tenham desaparecido, é bem-visto na cidade dos anjos como um guionista prestigiado. Ele sabe que não deveria ter aceitado o trabalho na série televisiva de Helen, mas isso abrirá portas para desenvolver os seus próprios projetos.
Grant é exatamente como Helen se lembra dele: engraçado, popular e adorável de uma forma que ela nunca foi. E Helen também é exatamente como Grant se lembra: brilhante, bonita e um pouco introvertida. O trabalho em conjunto é inicialmente conflituoso e confuso, mas eletrizante, pois a atração não demora a falar mais alto - beeem mais alto! E, surpresa, os pais de Helen, que nunca perdoaram a Grant, não fazem ideia de que ele está envolvido.
Quando os segredos vêm à tona, ambos terão de encarar o facto de que a sua história nunca foi feita para ter um final feliz. Se bem que a chave para fazerem as pazes com o passado e consigo próprios pode estar em agarrarem-se sem se largarem um ao outro no presente!
Recomendação aleatória da semana
O episódio Saúde Mental: Entre o normal e o patalógico, do podcast [IN]Pertinente
Já sabes que o [IN]Pertinente é um dos meus podcasts de eleição, certo? Apesar de ainda ter muitos episódios antigos por ouvir, estou a tentar acompanhar os episódios novos de acordo com o ritmo a que saem. O episódio desta semana foi sobre Ciência e o Rui Maria Pêgo teve o psiquiatra Gustavo Jesus como convidado, para falarem sobre saúde mental. Sendo um tema que precisa cada vez mais de ser bem abordado, deixo a recomendação.
Inquieta, o novo álbum da Gisela João
Não me considero uma grande entendida na música da Gisela João, até porque só no ano passado lhe comecei a prestar mais atenção, no entanto tenho a certeza de que Inquieta, que saiu na sexta-feira, me vai fazer companhia durante muito tempo. Com um propósito meio revolucionário, senti que ela tomou cada letra como sua, quase fazendo esquecer que não estamos a ouvir originais seus.
O primeiro episódio do podcast Conversas Para Ler, da Cláudia Godinho, na Antena 1, com a Rita da Nova
Sim, venho recomendar mais coisas onde a minha amiga Rita participa, não só porque acho que é sempre interessante ouvi-la, mas também porque, sendo a estreia de um novo podcast focado em livros, acho que pode ser uma boa aposta para estar atento.
Coisas que iluminaram a semana
Francesinha do mês: DeGema
A francesinha deste mês chegou cedo, eu sei. Como tivemos uma manhã de trabalho fora do escritório, acabámos por almoçar no centro do Porto e a escolha foi o DeGema. Podia ter experimentado um dos hambúrgueres, a especialidade da casa, mas sabendo que este mês não iria sair tanto para comer fora acabei por decidir que seria a minha oportunidade para francesinha. O molho é mais espesso, com um travo picante, e a sandes bem composta, embora lhe tirasse a fatia de hambúrguer. A francesinha com ovo e batatas fritas (ótimas, diga-se de passagem) e a bebida ficou por 14,85€.
Ainda Estou Aqui
Andava há semanas a pensar sobre se haveria de ir ver o Ainda Estou Aqui ao cinema. Ontem perguntei ao Diogo se já tinha visto o filme e acabámos por decidir ir vê-lo numa sessão a meio da tarde. O filme é fabuloso e acho muito importante que esteja a ter o impacto mundial que está a ter: em primeiro lugar, porque a ditadura militar brasileira ainda é uma ferida por sarar; em segundo lugar, porque vemos os direitos universais ameaçados um pouco por todo o mundo, fruto de ideologias mais ditatoriais, e convém não esquecer o que fazem as ditaduras. Ainda quero ir ao livro, não sei bem quando, mas o filme está mais do que aprovado. Agora dêem o Óscar à Fernanda Torres, obrigada.
Até para a semana,