216. o ano do trabalho?
palavras-mote para o ano, burnouts, uma recomendação de podcast, de curso e de restaurante. 😮💨

Desde há uns anos, quando escrevo a minha retrospetiva do ano escolho uma palavra para definir o ano que termina. Já tive um ano do caos, de aprender, da montanha-russa. 2024 foi, para mim, o ano do medo.
Quando penso nesta palavra que define o ano normalmente acabo por fazer o exercício de pensar também em qual seria a palavra que gostava de ter a definir o ano que vai começar. Nem sempre acerto. Em 2020 acabei o ano a torcer por mudanças em 2021 e um ano depois percebi que a palavra certa foi desafios. No entanto, faço este exercício quase como se estivesse a declarar as minhas intenções para o ano.
Este ano tive alguma dificuldade em pensar na palavra que gostava de ter a definir 2025, mas, como tem sido um tema em algumas comunidades das quais faço parte, voltei ao assunto. O que é que gostava de conquistar em 2025, o que é que gostava de ter a definir o meu ano? Quero que seja um ano tranquilo, de foco, de construção de bases para o futuro. Acho que quando disse que o meu foco do ano seria o trabalho estava a escolher a palavra que acho que vai definir o ano. Mas quero mesmo um ano em que o mote é o trabalho?
Do burnout à busca pelo equilíbrio
Quando cheguei ao meu trabalho atual a maior parte do receio que sentia prendia-se com o facto de ser a primeira ligação laboral que ia ter depois de um burnout. Teria recuperado? Teria aprendido o que precisava de aprender? Teria capacidade de encontrar o equilíbrio e ter uma relação saudável com o trabalho? Pelo que todos pareciam querer dizer-me era bem possível que eu não fosse talhada para aquele cargo porque claramente era muito exigente. Ou então os meus receios diziam-me que talvez não fosse talhada para aquele cargo porque era algo exigente e eu tinha medo de não conseguir. Em outubro, um mês com muito trabalho em que ainda não me sentia integrada e não sabia impor limites ou impor-me perante os outros, temi que realmente os meus receios estivessem certos.
Talvez seja algum comum a quem passou por isto: depois de um burnout questionamos realmente se vamos conseguir voltar a trabalhar, em que moldes o vamos fazer e se realmente devíamos desistir da profissão que nos apaixona porque, em determinado momento e lugar, algo nos fez ir a um sítio mau. Infelizmente, não nascemos herdeiros de grandes fortunas, por isso não temos outro remédio a não ser colocar os medos num saquinho, tentar melhorar e seguir.
A verdade é que sinto que ainda estou em recuperação do burnout — não no sentido de ainda me sentir como me sentia nessa época, mas no sentido de ter consciência de que ainda estou a aprender a aplicar limites, não-negociáveis e estratégias de forma a ter uma relação saudável com o meu trabalho, colegas e chefias. Enquanto aprendo sei que às vezes ainda não aplico alguns limites, ainda não me imponho totalmente perante outros e, definitivamente, ainda não sei como dizer que não sempre que devia. Mas estou a aprender. Enquanto aprendo, tenho sentido que evoluo como profissional, que ainda cometo erros, mas que tento sempre desafiar-me a algo diferente.
Esta semana assinalei seis meses neste cargo e brinquei que ainda não tinha escrito a carta de demissão nem pensado em escrevê-la. Não é que seja o trabalho perfeito, porque não é nem sei se tal coisa existe, mas tenho-me focado em fazer o melhor que sei para contribuir para a instituição. Há umas semanas disse, à frente de alguém das chefias, que há dias complicados no trabalho — neste ou noutro qualquer — e que a única forma de lidar com eles e de os ultrapassar é ter noção do motivo pelo qual estamos ali, das nossas intenções, dos nossos objetivos. Nenhum trabalho vale o custo de perder a nossa saúde, mas é preciso saber distinguir um trabalho que nos está a sugar de um momento mau, que existe em qualquer trabalho.
O foco no trabalho não significa estar a trabalhar para o desequilíbrio
Na sua newsletter, a Carolina escrevia algo que me fez todo o sentido:
Passámos da cultura do burnout - que, concordo, precisava de um travão! - para uma nova onda de crítica a quem dá prioridade ao trabalho numa determinada fase da sua vida. […] Se tenho objetivos concretos que me ajudarão a concretizar outras metas a título pessoal no futuro, se sinto que é o momento para me dedicar de alma e coração, se me sinto realizada com aquilo que faço, e se, realisticamente, esta prioridade me permite construir as bases para realizar outros sonhos… por que não posso abraçar isso sem culpa?
Depois de uma série de trabalhos em que aprendi, mas sinto que não cresci muito profissionalmente, quero realmente crescer profissionalmente, quero colher os frutos do meu trabalho e do meu esforço, não porque o trabalho é o mais importante da minha vida, mas porque sei que só crescendo profissionalmente vou conseguir cumprir outros objetivos que tenho na vida.
Claro que, aqui, importa falar de algo sobre o meu trabalho: embora seja marketer e essa seja a minha categoria profissional e seja a profissão que me paga as contas, nos últimos anos tenho encarado a escrita como trabalho também. Não deixei de lhe atribuir descontração, criatividade, arte ou até descanso mental, mas tenho encarado o que escrevo de forma profissional.
Em primeiro lugar, muitas vezes uso artigos do meu blog como exemplos no portefólio; em segundo lugar, não escrevo ficção a pensar na publicação, mas quando revejo o que escrevi foco-me muito na qualidade e tento que um livro finalizado seja o mais profissional possível; em terceiro lugar, porque sei que não estou lá neste momento, mas quero continuar a lutar pela possibilidade de a escrita — literária, mas não só — ser um ponto fundamental na minha vida. Sei que me vejo a ser mais content writer e escritora no futuro do que marketer generalista e acredito que é a tratar a escrita de forma profissional que o vou conseguir. Se calhar vou descobrir, pelo caminho, que acreditei erradamente, mas, para já, ainda é a crença que me sustenta.
No fundo, nada se consegue sem trabalho. Podemos precisar de um bocadinho de sorte, mas a sorte só terá resultado se já estivermos a trabalhar para algo. É por isso que, ao escolher trabalho como o mote do ano, tenho consciência de que o estou a fazer pelo futuro que quero ter e pela ideia de que talvez consiga finalmente um ponto de equilíbrio entre o trabalho e o resto da vida, numa balança em constante calibração.
Esta semana no daylight
Foi uma semana leve em conteúdos, com apenas duas publicações:
Comecei a semana a escrever sobre como lido com a minha ansiedade financeira, um tema que andava a adiar, mas que, pelas mensagens que recebi, faz todo o sentido abordar;
Escrevi sobre Romance de Férias, a comédia-romântica da Catherine Walsh que me acompanhou durante o Natal.
A viver nas páginas de…
As Primas, de Aurora Venturini
E eis que, finalmente, chegou a semana de me dedicar à Aurora Venturini!
As Primas foi dos livros de que mais ouvi falar ao longo do ano passado, mas acabei por ir deixando de lado. Ainda ponderei ler quando foi leitura conjunta do Clube do Livra-te, no entanto não se proporcionou. Agora, na sequência do desafio literário que fiz com a Andreia para 2025, determinei que janeiro seria mês de ler As Primas e é para ele que partirei esta semana.
A sinopse deste livro argentino diz:
Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social. Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.
Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida. Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.
Recomendação aleatória da semana
Tóli César Machado no Fala com Ela
Já vos referi esta semana que a Inês Meneses é uma das melhores comunicadoras do país? Não? Então cá vamos para o episódio desta semana de A Inês Meneses é incrível, desta vez para destacar a conversa que teve no podcast Fala Com Elacom o Tóli César Machado, músico dos GNR (e não só). O pretexto da conversa é o trabalho a solo do Tóli, mas torna-se impossível não falar dos GNR e da tanta outra música para a qual já contribuiu. O episódio ideal para quem gosta de música portuguesa.
Coisas que iluminaram a semana
Começou o curso do PNL sobre o que faz um bom livro
Em 2025, o Plano Nacional de Leitura vai promover mensalmente cursos gratuitos e online sobre literatura. Em janeiro, o tema é O Que Faz um Bom Livro? e as aulas são lecionadas pela Maria do Rosário Pedreira. Inscrevi-me neste curso sem grandes expectativas, porque acho que há alguma relatividade naquilo que faz um bom livro, mas com curiosidade em perceber o que teria a Maria do Rosário para partilhar.
A primeira aula de três aconteceu na quinta-feira e gostei dos pontos introdutórios partilhados pela editora, embora tenha sido isso mesmo: uma aula introdutória. Fiquei curiosa para as próximas, onde os temas desta primeira aula vão começar a ser detalhados.
Tapas N’ Friends
Sinto que deixei os jantares de Natal com amigos para janeiro e desta vez fui jantar com a Susana ao Tapas N’ Friends, na ****Praça de Guilherme Gomes Fernandes. Do que comemos destaco os lollipops de alheira e as batatas fritas. O restaurante é muito pequenino e, apesar de ter esplanada, aconselho a marcarem porque lá dentro estava cheio e na esplanada nem todos os aquecedores estavam a funcionar.
Até para a semana,
Parece que estamos a frequentar o mesmo curso! 😊