215. tens razão, Benito: devia tirar mais fotos.
DeBÍ TiRAR MáS FOToS, nostalgia e um podcast novo.

Nunca fui miúda de ciências exatas. Era boa aluna, mas tenho de admitir que não era algo que me fascinava. Sim, era interessante, mas não tinha vontade de passar horas num laboratório, não queria viver a fazer cálculos e certamente não queria uma vida rodeada de ciências exatas quando as ciências sociais me pareciam muito mais fascinantes. Porém havia algo muito interessante numa experiência científica que só mais tarde percebi que era replicável no resto da vida: se juntarmos determinados ingredientes em determinada quantidade em determinado ambiente iremos obter um resultado semelhante em todas as vezes. No entanto, uma pequena variação pode alterar por completo o resultado.
Ao longo da vida, pensei muitas vezes nisto, em como uma pequena variação num ingrediente poderia ter mudado todo o resultado da experiência. Uma nota mais alta numa disciplina, uma frase que podia ter tido impacto numa entrevista de emprego, um não àquele convite para ir tomar café. Mas também ter nascido anos antes ou depois, o governo ter tomado medidas diferentes para as famílias, os salários serem mais altos. E até Lisboa não ter sido considerada trend no estrangeiro, Portugal não ser um paraíso climático e até fiscal para turistas, a Europa não ser uma União… já pensaste em como a vida que tens neste momento é resultado de tudo isto? Quase parece que não tens hipótese de tomar certas decisões por ti. E quando começas a olhar à volta naqueles bairros típicos que agora estão cheios de alojamentos locais e cafés onde és a única portuguesa a pedir café percebes que se calhar não estás triste só porque não tens o amor da tua vida, mas porque o teu país está a mudar, a tua cidade está a mudar, a tua rua está a mudar…
O novo álbum do Bad Bunny entrou-me pelo Spotify dentro para me fazer pensar, inesperadamente, em experiências científicas. DeBÍ TiRAR MáS FOToS traz os ingredientes: a salsa, o reggaeton, a história de Porto Rico, a crítica social e política, a saudade. Estes ingredientes juntam-se em doses diferentes em dezassete músicas, ao longo de pouco mais de uma hora de álbum, e de repente fazem-nos esquecer de que os ritmos que lembram verão estão a tocar num dia de chuva de inverno. E a verdade é que o álbum parece ir buscar estes bocadinhos que, se tivessem sido diferentes, teriam feito um país diferente, uma cidade diferente, um artista diferente, uma música diferente.
DeBÍ TiRAR MáS FOToS é sobre nostalgia, sobre olhar para trás e perceber que houve tanto que se perdeu naquilo que não dissemos, naquilo que não fizemos, nos momentos que não guardámos. E isto acontece com as nossas pessoas, a nossa família, os nossos amigos, os amores que vivemos, mas também com o nosso país, a nossa cultura, a nossa terra. Um dia olhamos para trás e percebemos que devíamos ter aproveitado mais, devíamos ter aproveitado melhor, devíamos ter guardado mais, beijado mais, fotografado mais. Pelo menos as fotografias iriam lembrar-nos.
A verdade é que o álbum me apanhou na nostalgia (não lhe resisto), mas agarrou-me pela forma bonita como consegue falar de amor, de família e de um país em mudança de uma maneira tão própria, homenageando Porto Rico na sua identidade, porque, no fundo, o Benito sabe que tudo o resto na sua vida só teve o resultado que teve porque Porto Rico foi (e é) um ingrediente fundamental. Se pensarmos, a relação com a nossa família, os amigos que escolhemos e as relações que temos acabam por também ser um resultado direto do lugar onde nascemos e crescemos.
Agarramo-nos à sensação familiar de que não aproveitámos bem quando perdemos algo porque também fica sempre a sensação de que o tempo que temos com o que amamos nunca é suficiente. Nunca será. Pelo menos que fique algo menos fugaz que marque esse tempo. Se calhar devia mesmo tirar mais fotos.
(Mas cuidado ao verem os vídeos da trend do TikTok com DTMF… já chorei muito com aqueles vídeos, não há estrutura emocional para lidar com aquilo!)
Esta semana no daylight
Janeiro não está a passar tão lentamente quanto o habitual, mas aproveitei esta semana para entrar devagarinho neste novo ano também no blog:
Despedi-me de dezembro, como vem sendo habitual no fim de cada mês, detalhando as coisas que iluminaram o mês, alguns favoritos e deixando já uma antevisão para 2025;
Escrevi sobre alguns objetivos para o novo ano e falei daquilo que cumpri (e não cumpri) em 2024;
Ainda em modo objetivos escrevi sobre os livros para 2025, entre objetivos, desafios e novos lançamentos;
Por fim, acabei a semana a escrever sobre o livro Não Sinto Nada, da Liv Strömquist, aproveitando o mote para falar sobre relações e tentar um tipo de review um bocadinho mais extensa do que o habitual.
A viver nas páginas de…
The Happiness Project, de Gretchen Rubin
Tenho quase a certeza de que foi à Inn que ouvi falar deste livro, mas já passaram uns anos desde que o comprei e, por isso, admito que o motivo ou a influência de compra já está esbatida na minha memória. Comprei o The Happiness Project em maio de 2021 e, como dá para perceber, nestes três anos e meio deixei-o ficar sossegadito no Kindle.
No entanto, como estou focada em reduzir a minha pilha de livros por ler, há uns tempos desafiei o Chat GPT a dividir todos os livros que tenho por ler pelos diferentes meses do ano. A ideia era tentar ligar a vibe do livro à vibe do mês e, embora não tenha concordado com muitas das escolhas, acabei por manter esta sugestão de The Happiness Project em janeiro e será o livro que me vai acompanhar esta semana.
O livro já esteve publicado em português, embora esteja esgotado. Ainda assim, a sinopse, em português, diz:
Numa tarde chuvosa, a advogada americana Gretchen Rubin teve uma revelação no mais improvável dos lugares: um autocarro urbano: «Os dias são longos, mas os nãos são curtos. O tempo está a passar, e eu não me estou a concentrar suficientemente nas coisas realmente importantes.»
Resolveu, então, dedicar-se ao seu «Projecto Felicidade»: durante um ano, fez tudo aquilo que os livros, pesquisas e mestres pregavam como os verdadeiros conceitos de felicidade. Desde Plutarco aos pensamentos de Buda, de Epicuro a Thoreau, de Oprah a Martin Seligman e do Dalai Lama às ideias e preceitos mais banais dos livros de auto-ajuda. E resolveu relatar, com rigor de cientista, aquilo que funcionava (ou não) para ela no seu blogue: www.happiness-project. com.
Durante a experiência, arrumou os armários, cantou de manhã e deixou de implicar (tanto) com o marido. As suas conclusões são por vezes óbvias, por vezes surpreendentes, aparentemente simples, nem sempre fáceis. O blogue acabou por se transformar neste livro. Continua, no entanto, em actividade. Se domina o inglês, experimente visitá-lo. Ou comece o seu!
Escrito com charme e humor, O projecto Felicidade é esclarecedor, divertido e de leitura compulsiva.
Recomendação aleatória da semana
Cultas e Vinho Verde, o novo podcast da Inês Meneses
Em parceria com o Público, a Inês Meneses apresentou esta semana um novo podcast, chamado Cultas e Vinho Verde. A premissa do podcast promete colocar duas mulheres à conversa, com um copo de vinho a acompanhar.
A Inês Meneses é uma das vozes que mais gosto de ter como companhia e, por isso, claro que não podia resistir a este novo projeto. O primeiro episódio tem como convidada a jornalista, escritora e poeta Filipa Leal.
Coisas que iluminaram a semana
Resultados improváveis nos saldos de inverno
Entre sentir algumas mudanças no meu gosto e no meu corpo, tenho investido em alguma roupa sempre que posso, de forma a refletir o estilo que tenho adotado. Também não nego que sinto alguma necessidade de aparência cuidada em contexto de trabalho. Tudo isto motivou-me a separar dinheiro do subsídio de Natal para os saldos, com esperança de poder comprar algumas peças mais básicas e neutras, mas também algumas coisas que queria mudar no meu armário. Como não me apetecia ir nesta aventura sozinha, convidei a Andreia a vir comigo, pronta a gastar a poupança em roupa.
Já sabia que, possivelmente, não ia encontrar muita coisa que me agradasse porque costumo ver os sites e não tinha muita coisa guardada, mas realmente só comprei as coisas de que precisava mesmo e não gostei de muito mais do que vi. Por isso entrei na Sephora com mais orçamento do que contava e acabei por trazer três paletas de sombras (uma foi oferta) e três batons novos. O meu momento preferido foi perceber que tinha trazido de oferta uma paleta básica que tinha adicionado à wishlist há pouco tempo. Portanto agora é experimentar novas sombras todos os dias!
Até para a semana,